O Instituto de Matemática e Física (1963–1996) - IMF
A criação do Instituto de Matemática e Física (IMF), em 1963, marcou um divisor de águas na história da Universidade Federal de Goiás (UFG) e no desenvolvimento do ensino e da pesquisa em ciências exatas na região Centro-Oeste. Resultado de um contexto de renovação educacional e de um "delicado jogo de forças", o IMF nasceu de um ideal ousado: reunir em um mesmo centro o ensino e a pesquisa em Matemática e Física, estruturados nos moldes do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Em janeiro de 1962, a UFG realizou a I Semana de Planejamento, evento decisivo para repensar a estrutura da universidade recém-criada. O encontro contou com a presença de nomes de destaque, como Darcy Ribeiro, então reitor da Universidade de Brasília (UnB), e Ernesto Luiz de Oliveira Júnior, do ITA. Durante o evento, o diretor da Escola de Engenharia, professor Gabriel Roriz, foi profundamente impactado pela palestra de Oliveira Júnior, que discutiu a necessidade de transformar o ensino superior brasileiro para superar as deficiências tecnológicas do país.
Encantado pelas ideias apresentadas, Roriz perguntou-lhe como poderia implantá-las na UFG e recebeu o conselho que mudaria o rumo da história da universidade: “Vá ao ITA e procure por Paulus Pompéia". A preocupação de Roriz com a qualidade da formação dos estudantes vinha de antes: um episódio decisivo foi quando um professor da Escola de Engenharia apresentou em sala de aula um exercício que ele próprio não conseguiu resolver, levantando a questão sobre o tipo de engenheiro que a universidade estava formando.
Convencido da pertinência da ideia, Roriz viajou por conta própria até São José dos Campos (SP) para conhecer de perto a experiência do ITA. Lá, conversou com o professor Paulus Pompéia, chefe do Departamento de Física, solicitou indicações de docentes e estabeleceu contato com professores como Leônidas Hegenberg e João Martins, que posteriormente vieram a Goiânia para estruturar o ensino de Matemática e Física na UFG.
Apesar dos obstáculos internos, Roriz manteve-se firme em sua proposta. Inicialmente, defendia a criação de dois institutos independentes - um de Matemática e outro de Física – mas o contexto da UFG, marcado por disputas e resistências, levou à união das duas áreas. Assim, em 23 de novembro de 1963, o Conselho Universitário oficializou a criação do Instituto de Matemática e Física (IMF).
O primeiro diretor foi o professor Willie Alfredo Maurer, oriundo da Universidade Mackenzie, que mais tarde registraria as tensões e motivações do nascimento do instituto. Segundo Maurer, a criação do IMF envolveu três correntes principais: os idealistas, liderados por Gabriel Roriz, Marcelo Cunha Morais e Elder Rocha Lima, que defendiam a vinda de professores altamente qualificados de outros centros científicos; os oportunistas, que viam a criação do instituto como ameaça aos seus cargos e benefícios; e os indiferentes, que mantiveram postura neutra diante das disputas. Entre essas correntes, prevaleceram os idealistas, graças ao forte apoio estudantil da época, que acreditava nas ideias apresentadas.
Apoio Estudantil: Estudantes da Escola de Engenharia na criação da UFG,
Fonte: Revista Afirmativa - UFG
O IMF iniciou suas atividades em 16 de março de 1964, com 16 professores e 178 alunos, distribuídos entre os cursos de Engenharia, Agronomia, Matemática e Física. O marco simbólico da efetivação do projeto foi a aula inaugural, conduzida pelo reitor Colemar Natal e Silva, seguida de palestra do professor Elon Lages Lima. Antes disso, Maurer havia viajado a São Paulo e Rio Claro em busca de professores, trazendo para Goiânia um grupo de matemáticos e físicos, entre eles Juarez Milano, que começou a lecionar Matemática no primeiro ano letivo.
A criação do IMF alterou significativamente a estrutura da UFG, influenciando a formação de outros institutos básicos e consolidando uma nova concepção de universidade, pautada na integração entre ensino e pesquisa. Poucos anos depois, a maior parte do corpo docente já era formada por professores especializados, muitos deles oriundos de diferentes regiões do país, o que contribuiu para elevar o nível acadêmico da instituição.
Servidores do IMF. Fonte: MENDONÇA, A. P.; CEDRO, W. L. História da Matemática em Goiás: formação de professores e institucionalização da pesquisa. Goiânia: Editora UFG, 2015.
Em pé, da esquerda para a direita: Hermógenes Coelho Júnior, Orlando Ferreira de Castro, René Ayres de Carvalho, Willie Alfredo Maurer, Agenor Cortarelli, Juarez Milano, Sérgio Pedro Schneider, Wilson Natal e Silva, Osny de Souza e Odécio Sanches; agachados, da esquerda para a direita: Geraldo Alves Ferreira, Gerson Muccilo, Ecilo Costa Vilela e Guy Ribeiro de Andrade.
No regimento interno do IMF definia como finalidade centralizar o ensino de Matemática e Física, promover o estudo e a pesquisa e formar especialistas, especialmente voltados para a formação no magistério. Contudo, o funcionamento do instituto foi duramente afetado pelo golpe militar de 31 de março de 1964. Gabriel Roriz sofreu perseguição política, sendo afastado da direção da Escola de Engenharia, e seu vice-diretor chegou a ser preso. Apesar disso, o IMF manteve seu projeto de qualificação docente e ensino de excelência.
No final de 1965, o Prof. Willie Alfredo Maurer se afastou da direção para assumir compromissos na UnB. O vice-diretor, Saleh Jorge Daher, assumiu interinamente, mas também se afastou pouco depois. Em julho de 1966, Juarez Milano tornou-se diretor do IMF.
Fonte: Revista Afirmativa UFG
Em 1966, quatro alunos do IMF concluíram a licenciatura, incluindo Genésio Lima dos Reis, primeiro licenciado em matemática pela UFG, que se tornaria professor do IMF e Professor Emérito da UFG. O professor Genésio foi o primeiro a concluir o Mestrado e o Doutorado, ambos no IMPA. Orientou a primeira dissertação de Mestrado do programa de pós-graduação do IME, defendida pelo prof. Venício Veloso Borges em 1980.
Fonte: Arquivos IME-UFG
O IMF iniciou suas atividades em prédios provisórios da Escola de Engenharia e, posteriormente, no pavimento térreo da Faculdade de Direito, transferindo-se definitivamente para o Campus Samambaia em maio de 1973. O Departamento de Matemática foi instalado no bloco IMF-I e o Departamento de Física no bloco IMF-II, com laboratórios adequados. Por alguns anos, também funcionou um Departamento de Desenho Técnico, cujos professores foram depois incorporados ao Instituto de Artes.
Desde o início, o IMF incentivou a pós-graduação, permitindo que docentes realizassem cursos em instituições no Brasil e no exterior. Em 1977, iniciou-se o Programa de Mestrado em Matemática, seguido do Curso de Aperfeiçoamento em Física e, em 1992, do Mestrado em Física. O Programa de Desenvolvimento do IMF também previa a criação do curso de Ciências da Computação e a formação de núcleos de pesquisa em geofísica e geologia. O curso de Licenciatura em Matemática expandiu-se para Catalão (1988), Rialma (1993) e Jataí (1996), e foi criado o LEMAT – Laboratório de Ensino de Matemática (1993-1994).
Prédio antigo do IMF, atual IF.
Fonte: Arquivos IME-UFG
O IMF consolidou-se como referência na formação de engenheiros, licenciados e bacharéis em Ciências Exatas, graças ao modelo de dedicação exclusiva e à vinda de professores especializados. Com o crescimento das atividades de ensino e pesquisa, o IMF deu origem a três novas unidades em 1996: o Instituto de Matemática e Estatística (IME), o Instituto de Física (IF) e o Instituto de Informática (INF), inaugurando uma nova etapa na história da UFG.
*Para a revisão e aprimoramento da redação deste texto histórico, foi utilizada a ferramenta ChatGPT (modelo GPT-5, OpenAI).